sábado, 29 de janeiro de 2011

Um Novo Aprendizado

Na tarde do dia de Natal, já estávamos com as malas prontas e esperando o carro do aeroporto na porta do alojamento. Estava ansiosa com a viagem, eu sabia como o Akira-sensei era importante na vida do Art. Vivia falando dos bons momentos passados com ele, sua esposa Tiemi-san e o gato Jiva. Não resisti e perguntei ao meu namorado se eles gostariam de mim. Ele me abraçou e disse muito sério: “Anjo, quem não gosta de você? Se olharem dentro dos seus olhos vão enxergar toda esta beleza, inocência e pureza inerentes ao seu ser. Como os conheço bem, sei que vão enxergar tudo isto e muito mais!”


Quando o carro chegou, ele me pediu para sentar enquanto colocava as malas no bagageiro. Não me deixou nem ajudar. Eu sempre me admiro com o seu cavalheirismo. É tão raro encontrar um jovem como Arthur nos dias de hoje, ele me impressiona sempre ao puxar a cadeira para mim, ao abrir as portas e segurá-las até a minha passagem... Pode parecer um tanto fútil para a maioria, mas demonstra seu desvelo e para mim isso é muito importante.


No nosso segundo voo, lembrei dos meus pais, provavelmente estariam chegando à casa de praia da Anne, em uma Ilha afastada dos grandes centros. Desta vez meu pai deve se comportar como um homem comprometido. Seja como for, eles pretendem aproveitar a lua de mel. Quando penso na beleza das palavras do papai durante a cerimônia, eu ainda me emociono. Não só por perceber o quanto é importante para ele o amor da mamãe e sim, por sentir o mesmo tipo de amor pelo meu anjo. Tal pai, tal filha.


Tivemos uma viagem de setenta e duas horas exaustivas, passadas entre vários aeroportos, trocas de aviões e viagens de carro. Ao chegar à pequena Vila, na Ilha de Amami, eu fiquei encantada com a paisagem. O lugar era acolhedor e nossos anfitriões nos esperavam em seu maravilhoso jardim. Eu mal acreditei na admirável recepção.


Tiemi-san fez uma reverência tradicional do local, eu olhava maravilhada para sua beleza exótica e mignon, emoldurada pelo seu belo quimono florido. Sua tez era perfeita e dispensava maquiagem. Eu imaginava os dois como idosos, porém pareciam ter menos de trinta anos.


Antes das apresentações de praxe, Art reverenciou seu Mestre. Akira-sensei parecia surpreso com a deferência do seu pupilo, pediu para parar com aquilo e o puxou num abraço. Ele o tratava como um grande amigo e não como seu discípulo. Aquilo me agradou muito! Tinha algum receio dentro de mim em relação à postura de Mestre Oriental, a distância e a reserva tão proclamadas não existia entre os dois.


Sua bela esposa me mostrou o maravilhoso jardim, com uma frase reconfortante em minha língua natal: “Seja bem-vinda, este recanto é tão seu quanto nosso. Fizemos um chá para recepcioná-los, é nossa acolhida tradicional!” Sua fala era arrastada e lenta, havia decorado cada palavra, eu creio. Pois só seu esposo fala fluentemente a nossa língua.


Antes de me sentar para o chá, não resisti a afagar o Jiva. É um gato muito dócil, veio direto para mim, quando desceu da sua cesta na varanda. No futuro, eu vou ter meu próprio gato, com certeza vou!


Sentei-me ao lado da Tiemi-san enquanto ela servia o chá, os rapazes haviam levado a bagagem para dentro de casa. Ela fez questão de me explicar como funcionava a cerimônia do chá, a forma certa de servir, como virar a xícara ao tomar a bebida. Detalhes, aparentemente insignificantes para nós ocidentais. Entretanto fazia parte de uma cultura milenar e tradicional, nós como hóspedes deveríamos observar, aprender e respeitar.


Eles voltaram em pouco tempo e se uniram a nós, o chá ainda estava sendo servido, mas a animação evidente no semblante do meu amor me deixou menos ansiosa. Eu não tenho hábito de tomar chás, muito menos de observar detalhes de uma cultura tão diferente. Meu medo de errar e fazer algo estúpido era enorme!


O incrível foi simplesmente perceber a minha angústia se dissipar rapidamente. Não foi por causa do olhar do Art, mas do seu Mestre. É um olhar brilhante, vivaz, sem censuras ou cobranças. Aqueles olhos de ébano são profundos e luminosos como nunca vislumbrei antes. Ele tem realmente um dom, de inspirar paz ao seu redor. Faz o ar a sua volta se tornar mais puro, as emoções se harmonizarem, os pássaros cantarem, as árvores murmurarem felizes ao balançar suavemente suas folhas. Algo etéreo acontece apenas com a sua presença.


Por fim, não era nenhuma cerimônia tradicional, apenas um chá para recepcionar amigos exaustos e demonstrar seu apreço como anfitriões. Ficamos ali conversando por alguns minutos agradáveis, sobre o quanto foi desgastante a viagem, a beleza da Vila, os recantos aos quais Arthur pretende levar-me.


Após a bebida reconfortante, os dois resolveram meditar no jardim. Eu fiquei espantada com a disposição de meu namorado. Afinal veio cochilando junto comigo por todo o percurso de carro até eu acordá-lo. Eu despertei ao ouvir o inglês confuso do motorista dizendo: “Chegamos à Vila!”


Tiemi-san me levou diretamente ao nosso quarto. Sabia o quanto eu deveria estar cansada e me mostraria a casa toda mais tarde. Eu encontrei um ambiente espaçoso, com um violino no centro, cheio de livros e um belo futon para casal. Fiquei encantada com a simplicidade e beleza de tudo. No entanto, o violino ali indicava o que eu sempre imaginei. A música é essencial para o Art, embora tente negar, aquela era uma prova da importância do instrumento na sua vida.


Inspecionado todo o cômodo, minha nova amiga me ofereceu outra opção, ela cederia sua cama para mim. Por um instante devo ter passado a impressão errada quando olhei para o violino, eu declinei rindo e ouvi seu suspiro de alívio em seguida. Por fim, falou sobre ter água quente no ofurô esperando para o nosso banho e se ofereceu para me fazer uma massagem revigorante. Eu deveria aproveitar o dia e não dormir até a noite, para me adaptar ao fuso horário mais rápido.


Estava relaxando imersa na água quente há algum tempo, quando meu anjo se juntou a mim. Eu sentia urgência da sua companhia. Precisava entregar-me aos seus beijos, seus carinhos, aos seus braços. Estava esfaimada do seu gosto, do seu perfume, da sua paixão. Totalmente aliciada pela sua presença.


Após nosso demorado banho, Tiemi-san bateu à porta. Nem sei dizer, se ela estaria esperando o término para entrar, ou se intuiu ser a hora certa. Seja como for, sua entrada aconteceu segundos depois do Arthur se enrolar na toalha. Sabia o motivo de sua vinda, me deitei sobre a mesa de massagens, me entreguei ao seu toque firme e gentil. Como ela havia comentado antes, eu não tive sono. Pelo contrário, me sentia muito mais alerta.


Para aproveitarmos o restante da tarde, fomos passear pela Vila. Meu amor me abraçou em frente à praça central e me perguntou se eu preferia me alimentar antes de ir às termas. Eu estava faminta e ele provavelmente também, aceitei prontamente seu convite para um almoço tardio.


Não fomos a nenhum restaurante, era um quiosque onde se vendia a comida mais tradicional da Vila, frequentado pelos habitantes da região. O cozinheiro serviu a comida em cumbucas e ofereceu apenas os hashis, no lugar dos talheres. Mais experiente, Art me ensinou como usá-los e em pouco tempo me adaptei a eles.


Andamos apreciando a paisagem e paramos na casa de banhos. Meu namorado afirmou ser revigorante mergulhar nas termas de pedra quente. Era o melhor passeio para nosso primeiro dia, ajudaria a nos manter acordados por mais tempo, sem prejuízo para nossos corpos, até nos acostumarmos com o fuso horário.


Fizemos algumas compras antes de voltarmos para a casa dos nossos anfitriões. Meu anjo comprou um quimono de seda para eu usar no ano novo. Fiquei encantada com o presente. Comprei algumas joias típicas da região para mim e para a minha mãe. Além de procurar algumas lembranças para meus amigos.


À noite, quando chegamos, fomos direto para cama. Dormi aconchegada ao peito do meu anjo. Eu fiquei durante um tempo, em um estado de torpor, apreciando a sensação de ser amada. Eu podia sentir naquele contato toda a felicidade do meu namorado por estar comigo. Seu desejo pela minha presença era tão forte que preenchia todo o quarto, fluía pelo ar. O mais estupendo é o fato de poder perceber tudo isto, sem dúvidas, incertezas, medos ou inseguranças. Eu sou definitivamente muito amada!


No dia seguinte, continuamos a explorar um pouco mais da Vila. Arthur me brindava com seu conhecimento, me contou sobre a crença de se jogar uma moeda para reverenciar os deuses antigos, uma tradição milenar que se manteve através dos anos. Jogamos juntos um penny, esperando sermos favorecidos com a graça das divindades ancestrais.


Durante a tarde, uma chuva torrencial caiu e nós voltamos para casa. Nossos amigos nos aguardavam dispostos a me ensinar a jogar mahjong. Não houve estiagem e ficamos até a noite na varanda, nos divertindo ao agrupar as peças do jogo, com uma conversa agradável, ouvindo a água cair sobre o telhado e sentindo o cheiro de terra molhada.


Mais tarde, nós nos entregamos aos nossos anseios sobre o futon. Ficamos unidos e parados, nos encantando apenas com a comunhão dos nossos corpos. Desejávamos eternizar aquele momento, envolvidos pelo calor emanando de nós, a sensação de total preenchimento e integração. Arrebatados pela nossa sonata, tocando sem cessar em nossas mentes, ela parecia reverberar por toda a casa.


Art me explicou tudo sobre a cultura local naqueles dias, meu último desafio foi rastelar um jardim zen. Eu deveria limpar a minha mente e deixar marcas na areia. Buscar a harmonia, fora e dentro de mim. Olhei para o meu namorado um tanto insegura quanto ao que fazer e ele me falou: “Anjo, é só esvaziar a mente. Se for muito difícil, deixe apenas a música fluir, como se estivesse tocando seu violino.” Depois desta informação, ficou bem mais fácil e consegui entender o objetivo. Não é sobre a beleza externa, é sobre a paz interior.


Na véspera do ano novo, eu já estava completamente apegada ao Jiva. Quando eu estava em casa, o gato me seguia para todo lado, se esfregando em minhas pernas em busca de carinho, irresistível! Ele pensava como um ser humano e sabia da minha incapacidade de ignorá-lo.


Nós almoçamos todos juntos naquele dia, visando prosperidade e fartura através do cardápio tradicional de passagem de ano. Finalmente, notei o quanto nossos anfitriões são apaixonados. Àquela mesa não havia apenas uma boa comida, mas grandes amores.


Tiemi-san me ajudou a colocar o quimono para passarmos o ano no pequeno templo budista assistindo a cerimônia do Joya no kane. Consiste em ouvir cento e oito badaladas que representam os desejos mundanos do homem, o tocar do sino purifica o ser para o próximo ano. O mais importante foi a companhia admirável daquela família e principalmente do meu anjo.


Ao voltarmos, os rapazes haviam preparado alguns fogos de artifícios para comemorar do modo ocidental. Ficamos admirando o pequeno espetáculo, felizes por estarmos unidos naquele instante. Eu relembrei todos os acontecimentos do ano passado e parecia ter transcorrido uma vida inteira. Tantas transformações, mudanças e descobertas num único ano. O que estará reservado para mim neste novo ano?


Na manhã seguinte acordei nos braços do meu anjo, como tem sido sempre, desde o começo do nosso namoro. Tenho a sensação de pertencer àqueles braços, e nem imagino como será se um dia eu precisar dormir afastada deles! Eu já havia conhecido toda a Vila, mesmo sendo muito pequeno o lugarejo é lindo. Reconhecendo ter feito seu papel de cicerone, Art pretendia participar dos treinamentos diários com Akira-sensei e falou: “Anjo, eu gostaria muito de ter você ao meu lado nos treinamentos, são apenas algumas horas pela manhã. Contudo vou entender se preferir passear sozinha ou aprender cerâmica com a Tiemi-san.”


A princípio, não fiquei muito empolgada com a ideia. No entanto, ao ver o Mestre em estado meditativo no jardim zen fiquei fascinada. Seu corpo estava envolto por um halo de luz branca. Ele emanava paz e harmonia para todos a sua volta, eu estava totalmente arrebatada por esta cena e pela serenidade em seu semblante.


Neste momento, fui aliciada a me unir às meditações matinais, a cada dia me sentia mais plena e fortalecida. Eu já havia meditado outras vezes e sempre me ajudou muito, porém na presença do Mestre eu percebi a diferença. Foi um salto quântico, me estimulou a mergulhar profunda e intensamente de encontro à minha essência.


Perguntei a Tiemi-san o motivo de não se juntar a nós pela manhã. Ela comentou ser muito mais fácil entrar em estado meditativo ao confeccionar seus vasos e ânforas. Minha nova amiga era uma ceramista incrível e seu trabalho admirável. Compreendi rapidamente a sua explicação, eu também entrava em um estado de integração ao tocar meu violino.


Mesmo assim, estava disposta a continuar a aprender com Akira-sensei. Ele me intrigava com sua boa disposição, o humor tranquilo, o olhar penetrante, a força, a firmeza e a segurança. Junto a tudo isto havia uma suavidade o envolvendo, me estimulando a buscar e ansiar pelos seus ensinamentos.


À noite, quando não estávamos entretidos com o mahjong, eu tocava para os meus anfitriões. Até o Jiva aparecia para me ouvir. Eu admirava não só o meu namorado, com seu olhar carinhoso e doce, mas o nosso casal de amigos. O amor dos dois vibra tão intensamente quanto o próprio Akira-sensei.


Tiemi-san procurou ensinar-me um pouco sobre o chanoyu, a tradicional cerimônia do chá. Aprendi os rudimentos da cerimônia, ela me explicou ser um aprendizado demorado, com uma estética única. Reservei um horário no final da tarde na casa de chá local e empreguei meus parcos conhecimentos, para agradecer ao meu amor pela maravilhosa viagem. A cultura local me influenciou a buscar a verdadeira beleza da simplicidade, cultivar a paciência e desenvolver a firmeza interior. No final, Arthur esqueceu todo o cerimonial e me agradeceu do nosso jeito tradicional, me dando um beijo doce e quente, como o chá.


Em nossos banhos prolongados no ofurô nos envolvíamos em simples carinhos. Entretanto, entre nós o amor e o desejo estão intrinsecamente interligados. Não conseguimos nos beijar sem ouvir a nossa música e muito menos sem nos entregarmos completamente a uma união. A necessidade de estarmos próximos era premente, parecia aumentar embalada pela beleza e exotismo local.


Nós passamos a estudar violino juntos, dispostos a interpretar nossa sonata. Como só existia em nossas mentes, era preciso encaixar cada nota e acorde. A ajuda do Art me acompanhando foi essencial para o sucesso rápido da nossa empreitada. Durante o mês de janeiro progredimos muito e conseguimos acertar a melodia inicial. Todavia o ponto primordial para manter a integridade da música eram os beijos.


Como sempre, nos deixávamos levar pelo momento e o doce calor a nos envolver. Meu namorado sempre ansioso por mais, correspondia a minha libido com perfeição. Muitas vezes acabávamos deitados em cima do tapete, buscando saciar nossa sede. Esta rede intricada a nos unir, vai além do desejo dos nossos corpos, é completude e entrega.


Quando finalizamos parte da nossa música, a apresentamos aos nossos anfitriões. Eles assistiram com um sorriso espontâneo nos lábios, me deixando confiante de estar no caminho certo. Com mais tempo e alguns ajustes, conseguiríamos aperfeiçoar a melodia. Havia em mim a segurança para levar a sonata o mais perto possível da perfeição.


No início de fevereiro, nossa viagem estava no fim. Aprendi a encontrar e manter a paz interior, durante a meditação. Eu aprimorei meu Tai Chi Chuan e estava fazendo toda a série de movimentos com a dedicação, o equilíbrio e a harmonia desejados. Quando alcancei a perfeição dos movimentos, o reconhecimento do Mestre foi o mais importante para mim: “Você cresceu Ani-chan, agora está pronta para voar do ninho!”


Feliz com meu desenvolvimento, Akira-sensei me levou para conhecer seu próprio Mestre, o único monge budista a viver na Vila. Após reverenciá-lo, eu servi o chá, enquanto ouvia as histórias fantásticas daquela cultura transcendental, exótica e mítica. Art era um iniciado no zen-budismo e seu Mestre era apenas um homem com grande sabedoria nas crenças budistas. E com ele aprendeu a utilizar de forma correta sua própria energia, para encontrar a paz interior.


As férias terminaram e nossa despedida foi emocionada. Recebemos um convite, posso até dizer uma intimação, para um retorno em breve. Tanto eu quanto o Art, tínhamos realmente a necessidade de voltarmos para nosso treinamento com o amigo e Mestre. Eu gostaria de aprimorar a arte da cerimônia do chá e aprender cerâmica com a Tiemi-san. Estava convencida a voltar àquela pequena Vila na Ilha de Amami muitas vezes mais.


Entre um voo e outro tive muito tempo para pensar, registrar cada acontecimento mágico desta viagem. Lembrei da frase do Akira-sensei quando consegui alcançar o equilíbrio. Tudo se encaixava com perfeição em minha mente, como um quebra-cabeça, quando conseguimos colocar as peças centrais e visualizamos a cena completa. Eu recebi uma dádiva ao encontrar o Art e me entregar a este amor puro e pleno. No entanto, foi esta viagem a abrir meus olhos para o meu crescimento e desenvolvimento: Estou forte, confiante e segura. Reconheço meu potencial e talento. Finalmente vislumbrei a minha essência e descobri ser única.
Esta é a verdadeira Anita!



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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Imprensa

Revista Tietes – Segunda-feira, 28 de dezembro de 1998.

Fotos Inéditas: Casamento de Roxanne!
Após meses em busca da roqueira perdida, nossa equipe desvendou o mistério e encontrou sua nova residência em uma pequena cidade no sul do país. Conseguimos entrar disfarçados em seu casamento privado. A cerimônia contava com a presença de toda a família Fernandes, inclusive seu ex-marido, seu produtor Yanic e a esposa, alguns amigos pessoais do seu atual marido, Anacleto Lilás e pasmem, sua filha de dezoito anos com este homem. A jovem universitária Anita Lilás é uma promissora violinista clássica e tocou a “Ave-Maria” no início das bodas. A festa começou às onze da manhã com o casamento e se prolongou até a ceia de Natal. O casal está em viagem de núpcias em uma Ilha do Pacífico. Em breve traremos mais notícias da nova (ou seria antiga?) família da roqueira. Vestido de Papai Noel, consegui maiores detalhes para esta matéria e ri por último: Hohoho!


sábado, 22 de janeiro de 2011

Comemorações

Mesmo com todo o carinho e palavras reconfortantes do Arthur, eu estava muito irritada, angustiada, apavorada, agitada, ansiosa... Inúmeros sentimentos negativos inundaram o meu ser. Eu não deveria sentir-me assim, desejava superar estas emoções. Ao mesmo tempo, esta confusão me assolava e não conseguia enxergar uma luz para extinguir este tormento.


Art me envolveu com seu afeto e eu escondi meu rosto em seu ombro, envergonhada. O embaraço não era pelas lágrimas, elas lavavam as minhas mágoas. A vergonha advinha das minhas imperfeições, da raiva represada e da mesquinhez dos meus pensamentos.


Lendo meu movimento e reações, meu anjo me abraçou e comentou não haver um ser perfeito nesta vida. A perfeição era para o Eterno. Neste mundo nós aprendemos através das imperfeições e o nosso crescimento só pode acontecer com esta descoberta. Após suas palavras eu me larguei em seus braços, estava sem forças para me mover. Ele praticamente me carregou para dentro do alojamento.


Acomodada sobre a minha cama, pedi desculpas pelo meu arroubo. Ainda estava desapontada comigo mesma, pela fraqueza do momento. Arthur não me deixou continuar, enfatizou a importância desta liberação de tensões através do choro. Quando não conseguimos lidar com elas ou não encontramos um modo de canalizar tantos sentimentos, o melhor é deixar as lágrimas rolarem. De certa forma encontramos conforto nelas. Pergunto-me se consigo passar por tudo isso de novo. O dia seguinte seria mais um dia de turbilhões emocionais, por conta do almoço com meus avós.


Dentro de mim, existem muitas dúvidas e poucas respostas, algumas sensações ruins e uma única boa. De benéfico eu só enxergo a presença marcante do meu namorado. Eu gostaria de simplesmente apagar o passado e me entregar ao presente, mas algumas vezes é tão difícil... A raiva se apodera, o medo toma conta, a cabeça ferve e nubla, minha essência fica bloqueada. Tenho a impressão de me distanciar e cair. Ao mesmo tempo, percebo o quão próxima estou de segurar a mão estendida para mim, prestes a me transportar a um degrau acima. Nestes momentos ao clamar por ajuda, ela nunca me falta; quando realmente estou disposta a crescer.


À noite fomos a festa de formatura do Reynaldo, não era um baile. Eles decidiram fazer uma comemoração informal, em um celeiro, onde normalmente acontecem algumas raves clandestinas. Chegando lá, encontrei meus pais namorando no jardim. Decidimos não perturbá-los e fomos direto para onde estavam meus amigos.



Um grupo muito peculiar estava se apresentando. Misturavam uma cantora de voz estridente, um teclado e o som de um violino. Esta mistura se transformava numa espécie de dance music completamente diferente e original. Fiquei intrigada, era a segunda vez, no mesmo dia, que eu me questionava sobre estar testando todo o meu potencial executando apenas música erudita. Talvez eu deva experimentar novos ritmos.


Todos dançavam voltados para o palco e apreciando o pequeno grupo. Gostaria de saber como deve ser tocar enquanto o público dança a sua volta, parece haver uma interação ainda maior da plateia com o artista. Nunca prestei atenção antes, mas o único a realmente participar de um recital meu é o Arthur. A audiência fica sentada e apenas aplaude ao final.


Cumprimentei Reynaldo e o felicitei por sua conquista do sonhado diploma. Finalmente ele poderia começar sua carreira política, como sempre almejou. Ele estava eufórico, só conseguia sorrir e festejar.


Art e eu nos rendemos ao som e começamos a dançar. Pouco mais de uma semana atrás eu descobri a harmonia perfeita entre nós na dança e muita coisa aconteceu desde então. Desta vez não foi diferente, em pouco tempo nossa conexão retornou e nossa sintonia era ainda maior.


Eu olhava para ele e via meu companheiro, meu amor, minha paixão. Minha confiança nele é completa, meu coração está totalmente aberto. Meu anjo é parte de mim, assim como eu sou parte dele. Eu me fortaleço nesta entrega, um só ser em dois corpos, esta união nos torna plenos.


Por um instante senti como se existissem apenas nós, ouvido a nossa música. As luzes estavam apagadas a nossa volta, apenas o brilho de nossos corpos em harmonia iluminavam o lugar. Um momento sobre o qual eu só tinha uma palavra: mágico! Mergulhei na completude daquele instante, me entreguei e o vivenciei junto ao meu amor. Esquecida do mundo, apreendia cada sorriso, cada olhar e notei em seus olhos o brilho de nossas essências unidas.


Quando meus pais vieram para pista, eu voltei a notar o ambiente a nossa volta. As luzes fortes ainda estavam lá, a música vinha do aparelho de som comandado por um DJ e as pessoas continuavam a dançar ao nosso redor. Nosso instante precioso não se perdeu por completo. Havia em mim a percepção intensa e o conforto de descobrir esta nova possibilidade: mergulhar na profundidade de nossas almas e encontrar uma perfeita união.


Na manhã seguinte, eu realmente não queria levantar da cama. O aconchego dos braços do meu anjo era um motivo muito bom para permanecer no mesmo lugar. Na realidade, era o meu medo de encarar meus avós a influenciar este estado de torpor. Art sorriu e disse: “Anjo, você é suficientemente forte para levantar desta cama e encontrar com eles!”


Com o braço do Arthur a envolver meu ombro, parei abruptamente na porta da minha casa, eu congelei. Não me sentia pronta, não poderia conversar com eles de coração aberto. Não estava disposta a ouvir seus argumentos sobre os acontecimentos do passado. Ainda doía demais, era amargo e parecia não passar nunca esta angústia dentro de mim. E machucava ainda mais, a minha dificuldade para perdoá-los.


Notando minha tensão, meu anjo me virou e aconchegou de encontro ao seu corpo, antes de falar: “Tudo vai dar certo! Você não precisa resolver todos os seus conflitos hoje, só conviver com eles, almoçar e procurar conhecê-los melhor. Com o tempo, tudo vai ficar mais fácil.” Depois de suas palavras tranquilizadoras, segui em direção a porta e toquei a campainha mais confiante.


Amélia nos recebeu com alegria e fez questão de agradecer ao Arthur pela sua presença. Eu consigo admirá-la cada vez mais, em meu coração eu a desculpei. No entanto, a minha mente teimosa vive a argumentar: se ela tivesse comentado com o filho sobre as ligações de Anne... Tudo poderia ser tão diferente!


Anacleto estava sentado no sofá da sala e nos convidou a sentar. Tinha um sorriso franco, todavia parecia preocupado e nem se levantou para nos cumprimentar. Talvez estivesse cansado, não sei; embora a aparência dele estivesse serena, minha intuição dizia haver algo errado ali.


Minha avó pediu licença para terminar o almoço e preparar a mesa. Eu pensei em me livrar da conversa no sofá e me ofereci para ajudá-la. Porém, ela disse ter tudo sob controle. Insistiu comigo para ficar e ouvir as palavras do meu avô.


Ao nos sentar, meu namorado e vovô falaram sobre a sua permanência na cidade; ouvi chocada ele dizer: “Estou aposentado, pretendo achar uma casa e fixar residência aqui em Colina Formosa, junto a minha família.” Ele continuou, explicando ser muito solitário viver na cidade grande sem nenhum parente e principalmente estando sem trabalhar. Meu avô via na cidade pequena a possibilidade de criar laços mais firmes e duradouros, não apenas com os familiares, como também com novos amigos.


Durante o almoço, eu ainda estava muito preocupada com a provável mudança dos meus avós. O desconforto geral era evidente, pois todos estavam concentrados em seus pratos e pensamentos. Ou simplesmente, a introversão é uma característica genética em minha família.


Minha mãe provavelmente comentou com minha avó sobre o Art ser vegetariano. Amélia preparou uma refeição leve, a base de queijo e salada, me deixando satisfeita com sua deferência ao meu namorado. No meio do almoço, ele deu um meio sorriso para mim. Havia um pedido implícito em seu semblante: “Converse com eles, puxe um assunto!”


Tentei realmente, um tanto incomodada com toda a situação, encontrar algo para falar. Lembrei de ter dado falta do balcão. Nós nunca tivemos uma mesa de jantar em casa. Anacleto, atônito disse não entender como eu pude passar a maior parte da minha vida sem fazer minhas refeições em uma mesa decente!


Minha avó tentou contemporizar, disse ter pedido a Anne para guardar o balcão e as cadeiras no porão. Era muito desconfortável para eles sentar em cadeiras altas, além disso, os dois estavam muito velhos para lidar com muitas mudanças ao mesmo tempo. Alguns hábitos eram difíceis de serem modificados.


Eu fiquei comovida com a explicação da Amélia. Resolvi calar-me, nem que o Arthur me desse o melhor de seus sorrisos, eu voltaria a falar qualquer coisa. Mesmo assim, as palavras da vovó abriram meus olhos, eles eram idosos e precisavam realmente estar próximos da família. Quem cuidaria deles se algo acontecesse? No fundo o gelo dentro de mim, começava a se derreter.


Não havia clima para ficar mais tempo ali. Após a sobremesa, demos uma desculpa comentando ter outro compromisso e nos despedimos. Enquanto meu avô me pedia para tomar cuidado e falava sobre os jovens hoje terem mania de adiantar as coisas. Minha avó pedia ao meu namorado para tomar conta de mim, por que eu era muito sensível e precisava de um protetor. Eu me questionei sobre como Amélia chegou a esta conclusão em tão pouco tempo.


Ao sair de lá, meu anjo sorriu para mim, acariciou o meu rosto e perguntou: “Então, agora você sabe que eles são apenas pessoas normais, com defeitos e qualidades como todos nós?” Fiquei intimidada, entretanto, ele tinha razão como sempre. Eu estava mais disposta a aceitar a presença deles e talvez, com o tempo pudesse deixar de lado toda a raiva.


Na véspera de Natal, o meu namorado acordou muito empolgado. Mal tive tempo para respirar e contar sobre minha ida à casa dos meus pais mais cedo. Minha mãe me pediu para ajudá-la a se arrumar para o casamento. Ao me jogar por cima dos lençóis com seu olhar encantador, eu simplesmente me perdi e esqueci de comentar qualquer coisa.


Não resisti a passar um pouco mais de tempo na cama com o meu anjo. Ele tinha o poder de me fazer esquecer todos os compromissos. E depois, eu iria apenas dar o meu apoio para a mamãe, fechar os botões do vestido, arrumar a saia e afirmar o quanto estava linda. Anne havia contratado profissionais especializados para fazer os nossos cabelos e a maquilagem.


Ainda perdida nos braços do meu amor, ouvi o toque insistente do telefone dos meus pais no celular. Por um momento pensei estar irremediavelmente atrasada. Atendi às pressas, era o mordomo da mamãe, ele falou muito agitado: “Anne desistiu do casamento!” Eu fiquei apavorada, mesmo assim preferi não perguntar nada pelo telefone. O melhor era ir até lá e descobrir qual era o problema com ela.


Arthur ainda me esperava sobre a cama com sua usual alegria e questionou: “Aconteceu alguma coisa?” Contei sobre a única notícia recebida e da urgência em ir até em casa. Percebendo o meu pânico, ele perguntou se eu desejava companhia. Eu achei desnecessário, o encontraria mais tarde durante a cerimônia, se ela acontecesse!


Quando cheguei, Alfredo estava a me esperar. Ele me ligou quando Anne ameaçou cancelar tudo. Resolveu trancá-la no quarto até a minha chegada. Por enquanto, papai não sabia de nada, a desculpa era a crença na superstição da qual o noivo não pode ver a noiva antes do altar. O velho amigo da minha mãe estava verdadeiramente preocupado e como a conhecia muito bem, me uni a sua preocupação.


Subi apressada e a encontrei encolhida no pequeno sofá de frente para a lareira, vestia um robe atoalhado, seu cabelo e a maquiagem estavam prontos. Provavelmente esperando ser convencida a aceitar suas bodas, um bom motivo seria o suficiente, sua decisão dependia somente da qualidade dele. Comecei perguntando o que aconteceu para sua mudança de ideia.


Mamãe comentou não se importar com casamento, pois já teve um anterior e papel assinado não é garantia de felicidade eterna. Aceitou porque meu pai insistiu, gostaria de ter uma cerimônia para reafirmarem seu amor diante dos amigos. Contudo só a compreendi, quando disse: “Mas filha, a gente estava tão bem morando junto! Porque estragar tudo com um casamento?”



Eu concluí: Mãe, reconheço que o casamento não mantém e nem assegura o amor de ninguém. No entanto, é muito importante para o papai. Principalmente, porque você se casou com outro antes, isso mexeu com ele! Enquanto você estava solteira, esperava por sua volta. Mas quando soube do seu casamento, ele se enrolou com várias mulheres... Leto não vai aguentar se você desistir. Com a presença do seu ex-marido e a sua renúncia em cima da hora, vai imaginar você voltando para a capital nos braços do Ricardo!


Anne se levantou bruscamente, estava assustada e falou não haver refletido sobre nada disso. Agora estava claro para a mamãe; papai precisava do casamento para superar o trauma e a crença de ter sido rejeitado no passado. Ele a ama e deseja uma prova concreta do quanto é amado por ela: o matrimônio. Confirmei suas conclusões e a apressei. Precisávamos nos aprontar para a cerimônia. Os convidados estariam chegando em menos de uma hora.



Agradeceu-me e aproveitou para tecer elogios a minha pessoa, afirmando estar feliz por me ver segura e confiante. Segundo ela, eu fui “maravilhosa” e a ajudei muito neste seu instante de incerteza. Deveria ter conversado com o papai antes, entretanto com um bebê a caminho, o ex-marido, a presença dos meus avós... Tudo isso contribuiu para postergar o assunto. E durante a sessão de embelezamento, se apavorou ao perceber a inevitabilidade da situação, era o dia das suas bodas.


Finalmente, mamãe resolveu se vestir. Procurando as peças do seu vestido, falava sem parar. Continuava a explanar sobre as mesmas questões, como se tentasse absorver o teor da nossa conversa. Percebi em seu matraquear o quanto ainda estava nervosa com a situação, mais conformada com o matrimônio pelo bem do seu amor.


A esteticista estava de prontidão no outro quarto, fez rapidamente meu cabelo e maquilagem. Eu ajudei minha mãe a colocar sua roupa. O vestido simples confeccionado pela estilista do spa, a deixava com uma aparência inocente e jovial, estava deslumbrante. Apressou-me, depois de se aprontar sua perspectiva mudou, desejava casar-se e saber se os convidados haviam chegado. Vesti-me e desci correndo para a festa. Quanto antes os dois contraíssem bodas, melhor!


No quintal, completamente decorado para a festa, todos os convivas já estavam presentes, faltava apenas a noiva. Encontrei a juíza ao lado do Ricardo, os interrompi e a questionei sobre os preparativos da cerimônia. Ela disse estar tudo pronto, seu discurso estava decorado e o livro aberto na página de assinaturas dos nubentes. Restava chamar os convidados para se sentarem e a presença da mamãe.


Quando passei pelo Art, ele me puxou e acariciou meu rosto perguntando se estava tudo bem. Expliquei ser apenas uma ansiedade natural de noiva. Lembrei do nosso início de manhã e o quanto estava impaciente para terminar o que começamos. Não era hora, nem lugar, precisava esperar todas as comemorações cessarem. E não havia apenas as bodas, era a véspera de Natal.



Mamãe já havia descido e olhava ansiosa pela janela o papai. Ele estava radiante com o casamento! E parece tê-la contagiado, pois ficou muito animada quando eu disse já estar tudo pronto.


Caminhei até meu violino e não estranhei ao ver meus avós sentados na primeira fila. Afinal, apesar do clima tenso e conflitante, Anne realmente queria reunir a família. Desejava esquecer o passado e estabelecer um futuro menos turbulento entre todos nós.


Eu executei a Ave Maria de Bach, escolhida a dedo pelo papai, pois foi um dos meus primeiros clássicos. Minha mãe sabia exatamente o momento certo da sua entrada, ensaiamos várias vezes. A intenção era terminar a música quando ela alcançasse o altar improvisado.


Anne entrou no acorde certo, porém ficou encantada com as cadeiras lotadas, todos seus convidados vieram. Depois de olhar um a um, ela começou a caminhar apressada carregando seu buquê de rosas alaranjadas, havia perdido o tempo e queria chegar antes que eu executasse a última nota. Papai também perdeu o tom, ficou imobilizado quando viu a minha linda mãe em seu vestido de noiva. Nunca o vi sorrir com tanta satisfação e admiração.


No altar, Leto a elogiou, cortando completamente a fala da juíza. Os dois pareciam adolescentes, entusiasmados com a cerimônia prestes a começar. Achei encantador comprovar este amor tão puro e pleno, resistente por tantos anos.


Quando trocaram os votos e as alianças, fiquei muito emocionada com as palavras do Anacleto: “Não vou te amar e respeitar pelo resto da minha vida. Não é verdade. Eu te amo desde a primeira vez que a vi, estava deitada ao meu lado, eu tinha apenas cinco dias de vida e você acabado de nascer. Te amei naquele primeiro instante e com o tempo, meus sentimentos por você se fortaleceram. Eu te amo e te respeito por toda eternidade, nesta vida e em todas as outras, passadas e futuras!”


Depois agradeci aos céus por ouvir papai falando dos seus sentimentos de modo tão comovente. Perdi as palavras dos votos de Anne, mas os seus, eu li anteriormente. Não tinha ideia do quanto meu pai amava a mamãe, desde a mais tenra infância, eu não poderia imaginar! Precisei segurar as lágrimas para não embaraçá-los.


A juíza os declarou marido e mulher, mamãe adotaria o nosso sobrenome. Finalmente, Leto realizou seu grande sonho. Quando penso sobre a crise da minha mãe mais cedo, fico muito feliz por tê-la aconselhado da forma correta. Há esta hora eu poderia estar consolando meu pai. Soltei a respiração, uma sensação de alívio se fez presente. Ver meus pais unidos e apaixonados foi a minha maior satisfação!


Após um beijo cinematográfico, eles mal conseguiam desgrudar seus lábios, esquecidos da audiência a sua volta. Foi preciso as palmas dos convidados ficarem mais fortes, para lembrá-los de onde estavam.


Eu chamei nossos amigos para um brinde aos noivos. Desejava discursar sobre o quanto estava emocionada com o momento, presenciar o casamento de meus pais, sabendo do amor imenso e profundo que sentem um pelo outro. Explicar meus motivos para acreditar realmente na eterna união do casal. Entretanto, a minha língua travou e fui pouco fluente: Vamos fazer um brinde à felicidade e ao amor dos noivos!


Em seguida, Anne cortou o bolo e o dividiu com o Leto, os dois estavam empolgados e esqueceram mais uma vez dos convivas. Porém, o mordomo atento o serviu sem nem pestanejar. Em pouco tempo, estavam todos apreciando um delicioso bolo de nozes.


Após a valsa, os convidados começaram a dançar, Art me convidou para dançar. Mal me despedi dele nesta manhã, fiquei a disposição dos meus pais por todo o dia, merecia em tempinho a sós com ele. Meu anjo também sentiu minha falta: “Nem sei o que é pior, tê-la longe de mim ou diante de meus olhos sem poder te tocar!”


Fomos interrompidos minutos depois, pois Anne queria apresentar-me ao seu produtor e a sua esposa. Claro, eu já havia conhecido seus antigos companheiros de banda, antes da dança e pensei estar livre de mais apresentações.


No entanto, me deparei com algo inesperado. Ele disse o quanto ficou encantado ao ver meu vídeo no anfiteatro e ao me ouvir pessoalmente. Acredita ser possível lançar um CD com as minhas músicas. Primeiro, me perguntei sobre o vídeo, olhei para minha mãe e soube: obra dela. Arthur sorria daquele jeito vibrante e irresistível, como se falasse para eu agarrar esta oportunidade. Meu maior desejo estava prestes a se transformar em realidade. Hesitei por causa da Universidade, desejava continuar meus estudos e obter o meu diploma.


A dúvida em meu semblante era clara e nem precisei expressá-las em palavras. Yanic explicou haver uma parceria entre a minha Universidade e o selo de sua gravadora. Eu poderia gravar no estúdio do campus e depois só acertar um ou outro detalhe na capital. Enquanto eu estivesse estudando, procurariam marcar os recitais nas férias e fins de semana. Em fevereiro, ele gostaria de ouvir algumas gravações minhas para selecionar as músicas do CD.


Depois de tantas explicações e a possibilidade de me formar ainda em vigor, eu não poderia deixar uma oportunidade desta escapar. Embora eu me apresentasse nos festivais, eu nunca pensei muito sobre meus próprios recitais e gravar minhas interpretações. Entretanto, era a sequência natural da carreira de uma violinista. Eu merecia e devia isso a mim mesma.


Art me felicitou e aproveitou para finalmente me beijar. Como sempre, seu contato me preencheu com a nossa sinfonia, me acalmando. Por fim me acomodei em seus braços, novas tensões surgiam em meio ao encantamento. Eu estava ao mesmo tempo entusiasmada e apavorada com a oportunidade. Meu maior medo era toda esta nova situação acabar por me afastar do meu anjo. No entanto, eu não falei nada. Apenas me apertei de encontro ao seu corpo um pouco mais.


Após o almoço, passamos o restante da tarde dançando. A animação tomava conta de todos. No entanto eu só queria ficar abraçada ao meu amor, sentindo seu perfume inebriante, o calor dos seus braços, o desejo vibrante entre nós. Aproveitar ao máximo sua presença marcante em minha vida.


Anne tinha convidado a todos para passarmos a noite de Natal juntos. Apenas Reynaldo e Tânia se retiraram mais cedo para se unirem a sua família. Sua antiga banda, seu produtor e esposa ficaram conosco para apreciarmos juntos uma maravilhosa ceia.


Ao final do jantar, um Papai Noel apareceu misteriosamente. Nenhum adulto se responsabilizou pela sua vinda. O mais importante foi esta presença trazer uma enorme alegria para a pequena Abigail. Fiquei admirada com o meu anjo, havia um ar nostálgico em seu olhar, uma inocência e pureza próprias dele.


Em seguida, houve uma troca de presentes entre os adultos, todos tinham uma ou outra lembrança para oferecer. É muito gratificante perceber os sorrisos de aprovação quando acertamos um presente. Eu fiquei muito comovida com tudo aquilo. Meus natais com papai eram um tanto comuns, em geral ele me dava uma lembrança, fazia meu prato favorito e era tudo. Este foi o meu primeiro Natal com festa, troca de presentes e entre tantas pessoas queridas.


Meu namorado me afastou um pouco dos outros para me dar seu presente. Ele me ofertou pequenos mimos, deixando flores em meu camarim, além de reformar o meu quarto, eu tinha adorado cada uma de suas surpresas. Qualquer presente dele era muito especial e me deixaria emocionada. Ao me entregar a caixa, falou sobre as duas passagens aéreas para uma cidade chamada Amami. Eu sabia o seu significado: Ele me levaria para conhecer a Vila onde mora seu Mestre!


Ansioso me perguntou: “Você aceita ir comigo até lá, anjo? Voltamos umas duas semanas antes do planejado para você gravar as músicas antes do encontro com o Yanic.” Eu desejava muito ir com ele e poderíamos ficar todo o tempo, pois eu havia gravado muitas músicas no estúdio da minha mãe. Minha preocupação era o passaporte, o meu havia vencido ano passado. Ele deu aquela risada deliciosa e disse: “Tive sua mãe como cúmplice, está tudo pronto!”


Foi a minha vez de surpreendê-lo. Com a ajuda de Anne, encomendei um mp3 player pela internet e gravei todas as minhas músicas em seu cartão de memória. Ele me contou seu desejo de comprar esta novidade, por sua praticidade e conforto. Seu sorriso e a emoção em seus olhos quando viu seu presente me deixaram extasiada. Foi uma noite memorável. Nunca me esquecerei deste Natal!


Após as despedidas chorosas, por causa das viagens, fomos direto para casa. Mamãe nos mandou usar seu carro pois estava muito tarde. No dia seguinte Alfredo o traria de volta. Não tenho o hábito de dirigir, contudo por conta da excitação vibrante de nossos corpos, deixei de lado a cautela de principiante e “pisei fundo”. Como não há sinal de trânsito em Colina Formosa, voei até a Universidade. Durante o percurso, a mão do Art deslizava pela minha perna, o suficiente para me fazer acelerar mais e querer chegar o quanto antes.


Parei de qualquer jeito em frente ao alojamento e em pouco tempo estávamos sem roupas, sobre a minha cama. Nós as deixamos pelo caminho na correria até o quarto entre os beijos e carinhos audaciosos. Aproveitamos que tínhamos o alojamento só para nós. Todos os nossos companheiros estavam comemorando o Natal com suas famílias e não voltariam até o começo do próximo semestre.


Estávamos muito afoitos por nos unir, em pouco tempo nossos corpos se encaixaram com perfeição e nossa sinfonia tocou intensa dentro de mim. Eu consegui compensá-lo pela interrupção desta manhã. Minha recompensa foi plena ao ouvir sua sonora risada, a satisfação marcada em sua face, o seu cheiro tão familiar e marcante, sua tendência a me deixar trêmula e desejosa de nunca mais parar.


Prestes a dormir aconchegada em seu peito, meu namorado me perguntou: “O que a está preocupando. É a viagem ou o CD?” Ele quase adivinhara. Mesmo assim estava distante da profundidade dos meus sentimentos egoístas e pessimistas. Em seus braços e com sono, eu sempre me solto, então falei: Estou com medo de te perder durante todo o processo. Nós vamos ficar mais distantes quando eu começar meus recitais... Estou receosa!

Meu amor explicou: “Anjo, não pode perder o que está marcado dentro do seu peito. Nosso amor é eterno. Eu sempre vou estar junto a você e a distância não é absolutamente nada, diante da imensidão do meu amor!”
Eu realmente desejava acreditar em suas palavras e apaguei um tanto consolada sobre o seu peito.



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