sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alguns Anos Depois...

Fiquei intrigada ao reler este caderno. Precisei dele durante uma etapa decisiva na minha vida, quando tentava buscar respostas para as mudanças e transformações acontecendo a minha revelia. Quando escrevi a primeira parte tentava compreender as motivações do meu pai para me abandonar e mais tarde, com tantas coisas acontecendo, precisei retornar a ele para ordenar meus pensamentos.


Com o aparecimento da minha mãe, as motivações do meu pai ficaram mais claras para mim. Principalmente quando a Emília me mostrou seu álbum de recortes da Banda LP. Desde a infância ela  guardava as notícias sobre a banda e me permitiu copiar os recortes mais significativos para as mudanças ocorridas com meu pai. Ao unir minhas memórias às reportagens sobre a Roxanne, pude compreender e perdoar o papai com facilidade.


Depois disso ainda desejei entender o que levou Anne a casar com o Ricardo. Lia as notícias sobre ele e me questionava se ela havia sido atraída pela sua beleza, carisma ou talento. Contudo, quando o conheci pessoalmente descobri o verdadeiro homem por trás do comportamento arrogante e descuidado, ele é protetor e carinhoso com a mamãe. Com certeza isso a seduziu nos anos passados distante de mim e de meu pai.


Os últimos recortes e frases remetem ao casamento dos meus pais e à minha primeira viagem ao Oriente. Tantos anos passaram e eu nunca mais voltei a escrever nele. Eu o deixei de lado quando finalmente me descobri: não precisava mais de um confessor ou de um terapeuta. Após iniciar meu aprendizado com Akira-sensei, encontrei a segurança necessária para viver sem muletas ou escadas. Veio a minha memória os momentos marcantes ocorridos desde aquela época.


Ao voltar, Anne me mostrou as últimas notícias e as acrescentei aos meus escritos. Sua barriga despontava, sinalizando os quatro meses de gestação. Foi gratificante acompanhar o crescimento do meu irmão antes mesmo de nascer. A alegria do meu pai com seu segundo filho e principalmente a felicidade da mamãe em ter uma gravidez sadia e finalmente sem subterfúgios. Fez questão de exibir o novo formato do seu corpo em fotos artísticas e hoje decoram sua casa.


Ela e o Art foram comigo para a capital encontrar com o Yanic. O produtor ficou abismado com o meu repertório de clássicos e minhas composições. Todavia preferiu gravar primeiro os clássicos, minhas músicas ficaram em um segundo CD, quando minha carreira de violinista começou a despontar. Selecionamos o material para a gravação, fizemos um pequeno teste de som no estúdio e uma seção de fotos para a capa, cartazes e folders promocionais.


Em Colina Formosa, a gravadora mandou um técnico de som especializado para me auxiliar. Eu passava horas presa dentro do estúdio da Universidade, mas sempre tinha o meu namorado para me dar apoio e incentivar. Meus amigos sempre apareciam para me ouvir, raramente eu praticava no alojamento e eles sentiam falta do som do meu violino. Foi um semestre cheio de compromissos e durante o restante do meu curso de música, a minha agenda ficou cada vez mais lotada.


Quando meu irmão nasceu, não pude visitá-lo no hospital por causa das provas finais. Eu o conheci em casa, era um bebê muito vivaz, sua semelhança com o papai era impressionante. Seu tom de pele e de olhos eram reflexos do Leto. Meus avós não se continham de felicidade ao ver o seu novo neto e ficamos muito comovidos com eles. Desde aquele dia, qualquer mágoa passada foi esquecida e houve realmente um novo começo para toda a família. Lucas anunciou uma nova etapa para todos nós e buscamos nos inspirar na sua luminosidade.


O CD foi lançado um mês após o nascimento do meu irmão e desde então passei metade dos meus dias em aeroportos e aviões. Meu anjo, não me deixava ir sozinha para lugar nenhum. Na realidade, nós dois éramos inseparáveis naquela época, sua presença física ainda era muito importante para mim.


Meus recitais se tornaram cada vez mais concorridos, até eu tocar pela primeira vez no Teatro Municipal da capital. Minha mãe fretou um avião só para levar meus amigos de Colina Formosa, assim como toda a nossa família. Eu incluo os pais e as irmãs do Arthur nesta minha nova e grande família. A menina solitária aprendeu a se relacionar consigo mesma, agora tem vários parentes e amigos. Meu sonho se tornou realidade. Após este espetáculo, meu nome fulgurava entre os melhores da música erudita. Os críticos especializados me aclamavam e minha carreira decolou.


Não percebi a passagem dos anos e em pouco tempo estávamos nos formando. Eu e o Art passamos por toda a cerimônia de formatura lado a lado, junto aos nossos parentes e amigos. Fiquei triste com o término do namoro do Felipe e da Emi, e por vê-los partir de Colina Formosa. A Tânia casou com o Reynaldo e estão programando um filho para depois das eleições, ele se candidatou a Prefeito este ano. Madu conseguiu realizar seu sonho de se tornar concertista e muitas vezes conseguimos agendar uma apresentação juntas.


Um dia antes da colação de grau, me apresentei no Festival da Primavera. Pela primeira vez, meu namorado subiu ao palco ao meu lado e executamos a nossa Sonata de Amor, completamente finalizada. Yanic se encantou com a música. Expliquei a ele, eu não poderia apresentá-la sozinha, era para ser tocada por nós dois. Debatemos o assunto com o Arthur, para ele era importante não ter compromisso, pois não pretendia seguir a minha carreira. Compreendendo a decisão do meu amor, gravamos a melodia em um CD promocional e ela passou a ser tocada em toda parte. Foi um sucesso estrondoso!


Terminada a graduação, tive mais tempo para desenvolver outros estilos de música. Passei a me envolver com o som oriental e o eletrônico. A busca me rendeu muitos elogios da crítica e novos fãs. Nesta época, eu já não contava tanto com a companhia do meu anjo. Após terminar seu mestrado, ele conquistou uma cadeira na Universidade como professor convidado. E só podia viajar nos fins de semana e nas férias. De início foi doloroso para mim não ter a sua presença.


Quando surgiu uma oportunidade de compor trilhas sonoras para o cinema e a televisão, não hesitei e agarrei a oportunidade para diminuir o ritmo dos meus espetáculos e agendá-los no período das férias do Arthur. O restante do tempo, eu passo em casa a executar novas músicas e empreender novas experiências com o violino.


Investi num estúdio próprio em nossa nova casa. Foi projetada pelo Eduardo, no estilo característico da cidade e de acordo com os nossos gostos pessoais. Compramos um terreno próximo ao Teatro Municipal. Meus avós continuam a morar na minha antiga casa, eles pretendiam alugar, no entanto pedi para cuidarem do lugar para mim. Uma boa desculpa para ajudá-los, pois o valor da aposentadoria do meu avô é muito baixo e ele, muito orgulhoso.


A família do Art é maravilhosa, seus pais não mudaram em nada, gentis e carinhosos como sempre. Há dois anos, a Júlia casou com o Henrique, depois de muitas idas e vindas dos dois. Eles se separaram e voltaram muitas vezes no decorrer dos anos. Porém, quando optaram pelo casamento, se tornaram um casal muito estável. Por enquanto, estão preocupados apenas em garantir o sucesso de sua Galeria de Arte. A pequena Abigail se tornou uma bela jovem, muito parecida com a irmã. No próximo ano, vai ingressar no curso de Filosofia da Universidade, notícia que deixou seu irmão entusiasmado.


Todo ano, reservamos um espaço em minha agenda apertada para visitar nossos amigos na Ilha de Amami. No ano passado, eu ganhei uma gata, a Aída. Ela foi filhote de Jiva, motivo suficiente para me encantar com o animalzinho. Desde então, o carinho entre nós cresce a cada dia. Minha gata ama me escutar ao violino e gosta de ficar ao meu lado enquanto toco. Este é o único momento em que fica calma e silenciosa!


Foi maravilhoso acompanhar o crescimento do Hiroshi-kun. Não o vi quando nasceu, apenas na barriga e quando estava com quase um ano. Ao iniciar seus primeiros passos, ele era bem desengonçado ao andar, vivia atrás das borboletas. O pequeno me impressiona como os pais. Com cinco anos, ele se senta para meditar com alegria no olhar. Eu ainda não vejo uma aura de luz a sua volta. Entretanto, sei o grande potencial deste menino sereno, dócil e fascinante. Vai seguir a trilha do Akira-sensei e honrá-lo quando se desenvolver completamente.


Leto continua a investir seu esforço no cultivo orgânico, cuida das duas estufas, a de sua casa e a da minha. Contratou um agrônomo para ajudá-lo com a horta. O Lucas simplesmente nasceu para a agricultura, meu irmão se empolga com as plantas e conversa com elas como se fossem suas melhores amigas. Elas correspondem a esta amizade, estão sempre belas e viçosas. Ele nasceu para cultivar a terra, tem um dom e como eu, o descobriu bem jovem.


Mamãe ainda compõe e escreve músicas. A maioria é apresentada pela cantora Elise Reis, que ficou famosa graças às composições da diva do rock, Roxanne. Os jornalistas a deixaram em paz logo após o nascimento do Lucas e o lançamento do meu primeiro CD. Hoje raramente tem seu nome citado no jornal e nós duas podemos viver tranquilas em Colina Formosa, embora sejamos tratadas como celebridades locais.


Estamos esperando nosso primeiro bebê e mesmo estando no início do segundo trimestre, descobrimos ser uma menina. Art está maravilhado com a vida criada por nós. Não para um minuto de falar com nosso pequeno milagre. Meu anjo está sendo um pai atencioso, tanto quanto tem sido um companheiro excepcional.


Não consigo imaginar minha vida sem o meu amor, temos uma união perfeita e hoje mal precisamos de palavras para nos comunicar. Posso ver-me refletida em seu olhar, sem distorções. Conhecemos não apenas nossos corpos em cada detalhe, mas nossas emoções, sentimentos e mentes. Estamos completamente unidos pelo nosso amor, somos realmente um só ser em dois corpos, dois corações batendo em uníssono a nossa Sonata de Amor.


Fim



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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Imprensa


Revista Caretas – Quarta, 20 de janeiro de 1999

Roxanne em Entrevista Exclusiva!
Há alguns meses atrás, a popular roqueira se retirou dos palcos e foi viver em uma pequena cidade no sul do país. O mais inesperado não foi descobrir sua localização e sim seu casamento com o pai de sua filha de dezoito anos. A carreira de Roxanne como cantora tem dezoito anos e até então, ela nunca havia comentado na mídia a existência de um filho. Conseguimos uma entrevista com a roqueira em sua nova casa em Colina Formosa, após sua volta da lua de mel. Com muito bom humor, ela nos respondeu todas as questões na companhia do marido.
Caretas: Você se retirou dos palcos em julho passado e simplesmente “desapareceu”. O motivo foi seu casamento e sua filha?
Roxanne: O principal motivo foi minha filha, desejava encontrá-la sem os holofotes entre nós. Não tive a intenção de “desaparecer”, apenas me dedicar a um relacionamento até então inexistente, sem interferências externas.
Caretas: E porque seu relacionamento com sua filha era inexistente? Foi por causa da carreira?
Roxanne: Eu fui separada de minha filha logo ao sair da maternidade, uma série de mal-entendidos, equívocos e perda de correspondências acabou por nos afastar durante anos...
O marido de Roxanne a interrompeu e disse: A maior parte da culpa foi minha. Quando a vi fazendo sucesso, fiquei com ciúmes e não tentei nenhuma reaproximação até sua separação do Ricardo Fernandes em 97.
Caretas: Quer dizer que seu afastamento nunca foi voluntário?
Roxanne: Claro que não! Eu sempre desejei ter meu bebê de volta em meus braços. Nunca pretendi me afastar, muito menos por causa da carreira. Eu largaria toda a fama, sucesso e fortuna para estar ao seu lado nos últimos dezoito anos. Mas eu nunca soube aonde ela vivia.
Caretas: Sua filha tocou violino no seu casamento, isso quer dizer que vocês têm um bom relacionamento agora?
Roxanne: Minha filha além de muito talentosa, é um verdadeiro anjo, quando soube de toda a história foi compreensiva com os nossos erros e nos perdoou. Hoje é minha maior companheira e confidente. Acredito ser o mesmo para ela. Um relacionamento melhor é realmente impossível. Talvez, por não termos convivido mais tempo juntas, temos um relacionamento tão maravilhoso!
Caretas: Então, depois de receber o perdão da sua filha, você e o pai resolveram se casar após tantos anos separados. Vocês sempre se amaram?
Roxanne responde após muitas risadas e troca de olhares com o marido: Não posso negar que sempre nos amamos. Obviamente, como disse antes, todos os mal-entendidos do passado pesaram em meu coração e por algum tempo nosso amor esfriou. Mas na verdade, antes mesmo de receber o perdão da minha filha, nós já estávamos decididos a dar uma chance para este amor novamente. E com certeza não nos arrependemos!
Caretas (sem graça pelo climão que pintou na sala): E agora, quais são os planos para o futuro?
Roxanne: Pretendo continuar a viver nesta cidade, mantendo minha carreira como compositora e no futuro próximo me dedicar a família. Finalmente vou ser mãe e esposa como sempre sonhei.